Um jovem que acabara de herdar a fortuna de seu pai,
sentindo o bom momento do mercado de artes, decidiu tornar-se mecenas.
Num domingo foi até à praça pública imaginando que lá seria um excelente
local para encontrar artistas interessados em seu mecenato. Logo que chegou se interessou por um pintor que expunha
ali seus quadros:
- Que quadro lindo! Você mesmo quem pintou?
- Sim, esse quadro é um dos meus favoritos. Não sei se você
consegue notar, mas aqui eu apliquei a técnica de Haishem.
- Entendo. Mas quase ninguém utiliza mais essa técnica não
é?
- Isso é verdade, porém se você observar mais de perto, aqui
nesse ponto está vendo? Aqui já existe uma fusão de Haishem com Vintorato. Eu
quis expressar aqui o vazio existencial que existe em cada um de nós, entende?
- Sei. Mas você acha mesmo que alguém está interessado em
saber esses detalhes? Não seria melhor você simplificar um pouco. Sei lá... Pra
que mais pessoas pudessem ter acesso à sua obra?
- Pode ser... Mas arte antes de tudo é sentimento sabe.
.quando um artista cria ele não está
muito preocupado se vai vender ou não... Quando eu pinto, por exemplo, procuro transmitir
na tela o que estou sentindo naquele momento. Dessa forma ela torna-se única,
porque é o registro de um momento que nunca mais será o mesmo, não sei se você está
entendendo...
- Sim. Entendo perfeitamente. Mas eu ainda acho que se você
fizer algo mais fácil, mais assimilável, mais pessoas se interessarão em
comprar os seus quadros, e dessa forma você contribuiria para a popularização
da sua arte. Isso não é bom? Você é
muito talentoso... O que você acha de fazer uns dez.. Vinte quadros pra mim por
semana? Eu compraria todos eles.
- Sério? Puxa! pra mim seria
ótimo. Eu não consigo vender nem dez por mês!
- Você topa então? Mas tem uma
coisa... Você só pode pintar quadros de uma mesa com um cesto cheio de maças, o
que acha?
- Não entendi. Você quer que
todos os quadros sejam iguais?
- Isso. E outra coisa... Como vou
comprar essa grande quantidade de quadros por mês você terá de me vender por um
valor bem abaixo desse que você está acostumado a vender...
- É?
-É. E também terá de assinar um
contrato de exclusividade comigo.
- E precisa?
- Precisa. E já ia me esquecendo
de uma coisa. Você terá de abrir mão dos direitos autorais desses quadros pelo
resto de sua vida...
- Mas não vou poder nem assinar
mais os meus quadros?
- Nossos quadros! ... Tudo bem
vai... Mas contanto que abra mão dos
direitos... E Então? É pegar ou largar!
(Depois de um minuto de pausa o jovem pintor, um pouco resignado, fecha
o acordo com o jovem mecenas).
Alguns meses depois, e depois de
ter vendido muitos e muitos quadros da mesa com a maçã, ele voltou à praça
pública, e logo que chegou se interessou por um cantor que brilhantemente
cantava ali suas canções. Ao terminar o seu show o mecenas foi ao encontro do
jovem rapaz:
- Que música linda! Você quem
compôs...?
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