quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Mecenas e o Artista



Um jovem que acabara de herdar a fortuna de seu pai, sentindo o bom momento do mercado de artes, decidiu tornar-se mecenas.  Num domingo foi até à praça pública imaginando que lá seria um excelente local para encontrar artistas interessados em seu mecenato. Logo que chegou se interessou por um pintor que expunha ali seus quadros:

- Que quadro lindo! Você mesmo quem pintou?

- Sim, esse quadro é um dos meus favoritos. Não sei se você consegue notar, mas aqui eu apliquei a técnica de Haishem.

- Entendo. Mas quase ninguém utiliza mais essa técnica não é?

- Isso é verdade, porém se você observar mais de perto, aqui nesse ponto está vendo? Aqui já existe uma fusão de Haishem com Vintorato. Eu quis expressar aqui o vazio existencial que existe em cada um de nós, entende?

- Sei. Mas você acha mesmo que alguém está interessado em saber esses detalhes? Não seria melhor você simplificar um pouco. Sei lá... Pra que mais pessoas pudessem ter acesso à sua obra?

- Pode ser... Mas arte antes de tudo é sentimento sabe. .quando um  artista cria ele não está muito preocupado se vai vender ou não...   Quando eu pinto, por exemplo, procuro transmitir na tela o que estou sentindo naquele momento. Dessa forma ela torna-se única, porque é o registro de um momento que nunca mais será o mesmo, não sei se você está entendendo...

- Sim. Entendo perfeitamente. Mas eu ainda acho que se você fizer algo mais fácil, mais assimilável, mais pessoas se interessarão em comprar os seus quadros, e dessa forma você contribuiria para a popularização da sua arte.  Isso não é bom? Você é muito talentoso... O que você acha de fazer uns dez.. Vinte quadros pra mim por semana? Eu compraria todos eles.

- Sério? Puxa! pra mim seria ótimo. Eu não consigo vender nem dez por mês!

- Você topa então? Mas tem uma coisa... Você só pode pintar quadros de uma mesa com um cesto cheio de maças, o que acha?

- Não entendi. Você quer que todos os quadros sejam iguais?

- Isso. E outra coisa... Como vou comprar essa grande quantidade de quadros por mês você terá de me vender por um valor bem abaixo desse que você está acostumado a vender...

- É?

-É. E também terá de assinar um contrato de exclusividade comigo.

- E precisa?

- Precisa. E já ia me esquecendo de uma coisa. Você terá de abrir mão dos direitos autorais desses quadros pelo resto de sua vida...

- Mas não vou poder nem assinar mais os meus quadros?

- Nossos quadros! ... Tudo bem vai...  Mas contanto que abra mão dos direitos... E Então? É pegar ou largar!

(Depois de um minuto de pausa o jovem pintor, um pouco resignado, fecha o acordo com o jovem mecenas).

Alguns meses depois, e depois de ter vendido muitos e muitos quadros da mesa com a maçã, ele voltou à praça pública, e logo que chegou se interessou por um cantor que brilhantemente cantava ali suas canções. Ao terminar o seu show o mecenas foi ao encontro do jovem rapaz:

- Que música linda! Você quem compôs...?




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